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    Caminhos para o Complexo de Édipo(ce) Reflexões

    • Autor Vera Lúcia Barbosa, Maria.
    • Ciclo Ciclo III
    • Ano 2013

    “Eu gostaria de iluminar meu ponto essencial simplesmente com o seguinte: retire-se o complexo de Édipo e a psicanálise torna-se inteiramente da alçada do delírio. Incontestavelmente o Édipo é a pedra angular do edifício analítico. Ele é uma crise manifesta da sexualidade infantil; uma fantasia inconsciente; um mito social; e o conceito mais crucial da psicanálise.”

    Jacques    Lacan,     1967

    DEFINIÇÃO

    “Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sete em relação aos pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob sua forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos a chamada forma do completa do complexo se Édipo. Segundo Freud, o apogeu é vivido entre os três e cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de Édipo desenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas ele é o principal eixo de referência da psicopatologia; para cada tipo patológico eles procuram determinar as formas particulares da sua posição e da sua solução. A antropologia psicanalítica procura encontrar a estrutura triangular do complexo de Édipo, afirmando a sua universalidade nas culturas mais diversas, e não apenas naquelas em que predomina a família conjugal”.

    Laplanche e Pontalis, (1992).

    JUSTIFICATIVA

    As citações acima dão a dimensão da importância deste conceito dentro da teoria psicanalítica. Além do importante papel na fundação do sujeito psíquico, o CE comporta questões fundamentais como da formação da identidade sexual dos seres humanos e de como as pessoas se tornam neuróticas. Como diz o psicanalista J. D. Nasio, 2007, “Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa”.

    Freud dedicou a estudar e compreender o CE, e para ele CE é um fenômeno universal e está presente na origem de todas as religiões, das culturas, da moral e das artes humanas.

    Com este texto intenciono-me a dedicar um olhar mais atencioso para o CE. Ciente da impossibilidade, aqui, neste contexto, de abarcar o tema em sua profundidade e amplitude. Conhecedora da dimensão que o aprofundamento de um conceito com tamanha importância e complexidade requer. Não ouso mais que procurar acompanhar um pouco da trajetória Freudiana em torno do tema, nos inícios, em sua forma mais comumente conhecida. Sem adentrar-me em questões mais complexas, como o complexo de Édipo feminino, embora tenha utilizado como ilustração um caso desta ordem. Tais aprofundamentos serão tema e pesquisa de trabalhos posteriores, dos ciclos que ainda estão por vir. Pode, por exemplo, ter continuidade no trabalho de conclusão do ciclo IV.

    CAMINHOS PARA O COMPLEXO DE ÉDIPO(CE)

    Pode-se dizer que o tema do CE esteve presente em Freud desde os inícios, ainda em 1897, pg. 305, na carta 64 a Fliess, no Rascunho N, discorrendo sobre os impulsos hostis contra os pais, ele diz: “parece que este desejo de morte, no filho, está voltado contra o pai e, na filha, contra a mãe”, e em nota de rodapé o tradutor faz um comentário dizendo que talvez esta seja a primeiríssima indicação do CE, que emergiu por completo na carta 71, mas também presente na carta 69, ambas do mesmo ano. Na carta 69 ele mostra seu interesse pela atividade sexual infantil. E se dá conta de que sua hipótese de trauma sexual na infância não encontrava fatos comprobatórios nos casos de neurose que ele analisava. Na carta 71, Freud discorre seu interesse na relação mãe bebê, no apaixonamento da criança (menino) pela mãe e ciúme do pai. Nesta carta desponta por completo o CE, muito explicito em sua fala: “Cada pessoa foi um dia um Édipo e cada pessoa retrocede horrorizada diante da realização de um sonho com toda a carga de recalque que separa seu estado infantil de seu estado atual.”

    Mas é em seu texto de 1905, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que Freud vai consolidado sua teoria, ele mostra que há algo não esclarecido relacionado com a sexualidade infantil e se debruça sobre as aberrações sexuais. Deste estudo vai surgindo sua teoria da bissexualidade infantil. Como resultado chega a uma hipótese a respeito da Pulsão sexual, conclui que a pulsão não traz consigo o objeto alvo de sua satisfação e nem deve sua origem a presença deste objeto. Por ser o alvo sexual original inatingível ou considerado pelo sujeito como proibido é reprimido ou modificado, de forma que o novo alvo sexual passa a ser um objeto fetichista. A pulsão sexual passa, então, a mover o sujeito na direção do objeto fetichista e não do alvo sexual original, em direção a um alvo desconhecido. 

    Esta discussão vai se somando a outros estudos de Freud acerca das perversões sexuais como por exemplo a escopofilia, acropofilia, o sexo oral e o sexo anal e o levam a conclusão de que a pulsão sexual, presente no indivíduo, precisa vencer resistências diversas e variáveis ao longo da vida como o asco, a vergonha e a moral. E desta forma passa identificar seu alvo de satisfação e empurrar o indivíduo para este alvo. Pelas perversões das pulsões sexuais de todos os seres humanos ter um caráter inato, que pode ser encontrado nas crianças, ainda sem o recalcamento e as distorções de alvo que ocorre nos adultos, a pessoa a travar uma luta interna entre suas pulsões sexuais perversas e sua tentativa de reprimi-las.

    Ao analisar as lacunas existentes no conhecimento da vida sexual infantil Freud traz para primeiro plano o fator infantil na sexualidade. Afirma que as crianças são capazes de todas as atividades sexuais psíquicas e também de muitas atividades somáticas, que a comunicação emocional do bebê com a mãe ocorre desde o nascimento, sendo a qualidade dessa interação decisiva para o desenvolvimento. Explica que a carícia da mãe, seus beijos, embalos e toda expressão de ternura, mesmo sem que ela saiba, despertam na criança a pulsão sexual. Na verdade, por mais que considere seu procedimento como um amor puro e assexuado, o trata como o substituto de um objeto sexual plenamente legítimo. Ao ensiná-lo a amar, que é sua tarefa, a mãe pode tornar este contato pernicioso diante do excesso de ternura e mimo, provocando um amadurecimento sexual muito rápido na criança ou ainda uma neurose futura.

    Na infância a pulsão sexual estaria destinada a um objeto de prazer sexual ligado a outras funções, por exemplo, a alimentação. Neste caso o seio materno é o alvo da pulsão que se manifesta de maneira auto erótica uma vez que o bebê não é capaz de identificar o corpo da mãe como algo fora do dele. Assim Freud vai montando a organização pré-genital que é entendida em sua obra como dividida em fases: oral, anal e fálica que têm como respectivas zonas erógenas a boca, o anus e o pênis (no menino) e clitóris (na menina). As fontes de excitação e prazer que nestas primeiras fases são auto-eróticas, na fase posterior ao período de latência, chamada fase genital, que se dá na puberdade, são buscadas em objetos fora do próprio corpo, e os genitais assumem seu papel preponderante. O caminho mais curto para o indivíduo chegar a satisfação seria o encontro com suas mesmas fontes de excitação da primeira infância, só que isto já está muito distante em função das barreiras proibitivas que tem como principal destaque o tabu do incesto. E assim Freud vai desenhando sua teoria do Complexo de Édipo.

    A escolha do objeto não pode ser a fonte de excitação original, a mãe, mas carrega em si a imagem mnêmica deste objeto, tal como essa imagem o dominou desde os primeiros anos da infância, o que poderá levar a um desenvolvimento sexual perturbado ou o adoecimento neurótico. A perturbação do relacionamento entre pais e filho poderá levar às mais graves consequências para a vida sexual na maturidade. A afeição infantil pelos pais não é o único, mas é o mais importante dos vestígios que, reavivados na puberdade, apontam o caminho para a escolha do objeto. É nessa relação com seus primeiros laços emocionais, em geral com a mãe, que a criança se constitui como sujeito.

    Em seu texto “Escolha especial de objeto no homem” 1910, Freud vai mostrar evidências da influência do Complexo de Édipo nas escolhas de objeto sexual na vida adulta. Homens, segundo ele, fariam sempre suas escolhas tendo como referência as vicissitudes do romance familiar edípico. Desta forma estariam pré-determinadas as possibilidades de escolha que um homem pode fazer de acordo com sua história infantil.

    Em 1912, Freud retoma o CE em seu texto Totem e Tabu, tenta explicar tanto a origem como a presença universal do tabu edípico na história da humanidade. Toma como centrais os temas do incesto, do parricídio e da origem dos tabus.

    Freud analisa que nas tribos mesmo as mais adiantadas, cujo conhecimento a respeito da concepção é maior, aparecem rituais míticos que dão significado de honrar aos antepassados e permitir que seus espíritos fecundem uma mulher da tribo. O tabu leva a comportamentos observados nas tribos como o de não matar o animal totêmico, não comer sua carne ou até mesmo não tocar ou olhar para ele. O clã ou indivíduos deste acreditam ainda receber proteção divina proveniente do animal e este fato reforça a obrigatoriedade de respeitá-lo ao mesmo tempo que oferece um consolo ao sentimento de desamparo pela perda do pai protetor da infância.

    A aceitação da descendência do animal totêmico pelos membros da tribo transforma o ato de matar o animal em uma espécie de parricídio. A consumação de seu assassinato teria feito com que os participantes do ato saciassem seu ódio do pai, mas posteriormente fossem tomados por um sentimento de remorso e culpa. Ódio ao pai-obstáculo e a seus desejos sexuais (acesso as fêmeas do grupo) mas ao mesmo tempo um pai que também amam e respeitam. O Pai morto torna-se mais poderoso que o pai vivo, pois sua morte afeta o psiquismo dos filhos de tal forma que as perturbações sofridas são transmitidas aos descendentes e sentidas pela humanidade até hoje. Este pai presente no psiquismo dos filhos impele os filhos a fundar a nova sociedade onde o parricídio é proibido. O acesso as fêmeas do mesmo clã é proibido, impedindo que haja disputa, entre os filhos, pelas fêmeas, o que levaria à destruição da nova sociedade e o retorno a constituição tribal que fora com tamanho custo destituída.

    Como forma de mitigar o sentimento de culpa tem-se a instituição da religião totêmica que coloca o totem num lugar de respeito e veneração, o lugar do Pai. A veneração do Totem tem também o efeito de ajuda a esquecer o fato terrível que deu origem a religião totêmica.

    Para Freud todas as religiões de alguma forma tem ligações intensas com o episódio da destituição violenta do pai pelos filhos. Pode-se, por exemplo, encontrar rituais como o da refeição totêmica em culturas contemporâneas como as religiões cristãs (Sagrada Comunhão). Ele defende, ainda, ser possível encontrar a origem das religiões como também das culturas, da moral e da arte humanas no complexo de Édipo, derivado do ritual primitivo de assassinato e devoração do pai.

    O complexo de Édipo revela sua importância como fenômeno central do momento sexual da primeira infância. Sendo depois dissolvido por sua falta de êxito, desaparecendo quando chega a hora de sua desintegração. Freud imputa a destruição da organização fálica infantil à ameaça da castração. No começo, o menino não acredita na ameaça ou não a obedece, somente quando observa os órgão genitais femininos é que munido de fantasias, de que a menina tinha e perdeu o pênis, que por temer também perder o seu, o menino se tomba às ameaças. A criança abandona os investimentos no objeto e o toma por identificações. A autoridade paterna é introjetada dando lugar ao superego, que assume a severidade do pai e perpetua sua proibição contra o incesto protegendo o ego contra o retorno dos investimentos do objeto libidinal. As tendências libidinais que pertencem ao complexo de Édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas, assim como parcialmente inibidas em seus objetivos e transformadas em impulsos de afeição. A saída do complexo de Édipo é determinante na constituição do sujeito e de suas possíveis neuroses.

    FRAGMENTOS DE UM CASO

    Lara é uma paciente de vinte e poucos anos, que chegou ao consultório com a queixa de que, muitas vezes, sem saber o motivo, sentia uma angustia insuportável, que chegava a doer no peito e parecia não caber dentro dela. Nestes dias comia compulsivamente, dormia mal, e não tinha vontade para se cuidar, se quer para tomar banho, pentear os cabelos, ou escovar os dentes, chorava e ingeria bebida alcoólica em demasia, por fim sentia-se doente, fraca, com dores fortes de cabeça e por todo o corpo, o que durava às vezes dias. Passava horas em frente à televisão sem saber o que estava passando. Nestas ocasiões em geral brigava com o marido e mal se falavam. Ele algumas vezes se preocupava, mas ela não aceitava que ele chegasse perto, provocava-o até que ele se chateasse e saísse de casa, ou se fechasse em seu escritório, ao que ela reagia com fúria. Dizia que gostava dele, mas às vezes o odiava. Para impedir que ele saísse de casa segurava-o com força, esmurrava-o, gritava e chorava copiosamente, muitas vezes chegando a se machucarem. Separação era um tema presente constantemente, o que a deixava ainda mais insegura e agoniada. Tinha enorme ciúmes, sempre brigavam, em especial quando ele fazia qualquer coisa sem ela, esses eram os momentos que ela mais o odiava.

    Sobre a vida sexual contou que, embora já casada há alguns anos e seu marido ser um homem bom, bastante paciente e carinhoso, a vida sexual era pobre, com relações esporádicas e de pouca qualidade, ele não era criativo e sempre muito pacato. Quando tentavam inovações ele perdia a ereção, e isto a irritava demasiadamente, fazendo com que não o desejasse e o evitasse por longo tempo. Dizia, no entanto, gostar de sexo e desejar que o marido fosse mais cheio de vida, de entusiasmo, criativo. Queixava-se por ele sair com os amigos após o trabalho, deixando-a sozinha em casa, o que era sempre motivo de brigas. 

    Quando ele chegava cheirando suor, bebida e cigarro ela ficava com muita raiva. Ficava pensando com quem ele esteve e sobre o que conversavam. Estava certa de que havia mulheres e ficava imaginando como elas eram, bonitas, fogosas, extravagantes. As cenas que lhe vinham a cabeça eram as cenas dos cabarés, que via nos filmes, em que as mulheres se esfregavam, sentavam nos colos dos homens, seduzindo-os sem nenhum pudor. Esse pensamento lhe excitava a ponto de se masturbar. O que era uma enorme angustia para ela, sentia-se duplamente culpada, por masturbar enquanto deveria estar tendo relação com seu marido, e por se excitar com aquelas cenas desprezíveis.

    Lara era filha de pais muito rígidos e superprotetores, quando solteira quase não podia sair de casa, era sempre muito vigiada e geralmente quando saía era com eles, ou parentes bem próximos, em geral para ir a festas. Conta que quando criança tinha medo de tudo, do escuro, de sombras, de fantasmas, de monstros, e por isso cresceu dormindo no quarto dos pais. A princípio dormia entre eles, depois que ficou um pouco maior passou a dormir em uma cama que foi arrumada para ela ao lado da deles, só saindo dali já na adolescência. Sentia-se muito sozinha, o pai quando estava em casa dedicava toda atenção a ela, passavam horas deitados juntos no sofá vendo televisão, conversando (o que ela relata como momentos mais prazerosos e saudosos de sua vida), mas era raro ele ficar em casa.

    Era muito elogiada pelo pai, cresceu vaidosa, gostava de se arrumar, dizia que tinha seios grandes e por isso usava vestidos bem decotados, ao que sua mãe reprimia, mas seu pai autorizava. Sua relação com a mãe nunca foi muito boa, elas brigavam muito, sua mãe queixava-se muito dela e tinha uma visível preferência pelo irmão dois anos mais novo, e elas não concordavam em quase nada. Lara sempre usava do amor do pai para conseguir o que queria, sabia que ele era incapaz de negar-lhe qualquer coisa, o que era sempre motivo de briga entre ele e a mãe. A mãe suspeitava de traições do marido e constantemente resmungava sobre isto em voz alta, reclamando e xingando o marido mesmo na ausência dele, na maioria das vezes na presença de Lara, usando palavras bem depreciativas, o que deixava Lara com muita raiva. Ela achava que se o pai traia a mãe ela bem o merecia.

    Lara achava-se bonita e cobiçada pelos homens, mas nunca podia namorar porque nenhum homem era aprovado pelo pai e ela não se atrevia a desobedecê-lo. Em uma dessas festas que costumava ir com os pais conheceu seu marido. O pai a princípio fez objeções, mas acabou cedendo já que não tinha argumentos convincentes. O rapaz era cheio de qualidades e filho de pessoas muito respeitáveis. Diz não saber porque casou, não tinha certeza se gostava do rapaz, mas queria sair de casa, não suportava mais viver com a mãe e com as brigas. Nunca entendeu porque o pai não se separava da mãe.

    Em uma sessão Lara relatou que tinha sonhado que estava em uma festa com o marido, ela estava muito sensual, com um vestido com grande decote, havia muitos homens e eles a olhavam intensamente, ela sentia-se satisfeita, gostava de ser olhada, admirada. Mas ao mesmo tempo sentiu medo de que o marido visse que ela estava sendo cobiçada e quis chamá-lo para ir embora. De repente percebeu que ele tinha um rosto diferente, que se misturava com os outros e quando ela o discernia via um rosto parecido com o de seu irmão, que por sua vez parecia muito com seu pai, mas o rosto ia se transformando, e dentre as várias formas tinha também a forma do rosto da mãe. Ela continuava procurando o marido, tentando reconhecê-lo no meio daqueles rostos todos e chegar até ele, mas ele se afastava, não conseguia alcançá-lo. Havia homens no caminho entre eles, homens por todos os lados, ao caminhar ela se esbarrava neles e ficava ali presa, sem conseguir sair do lugar. Acordou se sentindo muito mal como se o sonho fosse realidade, acordou o marido para dizer que o amava e quis ter relação sexual. No dia seguinte passou por todas as etapas de autopunição costumeiras, descritas acima.

    Ao contar o sonho (que Lara chamou de “sonho com realidade” dizendo que por ele lembrá-la do lugar e condição em que conheceu o marido, tudo no sonho a fazia lembrar, a remetia ao primeiro encontro com o marido, embora fossem situações bastante diferentes, em que aquelas coisas que aconteciam no sonho não aconteceram de fato, a não ser a semelhança do lugar, da condição de festa) teve uma crise de choro e repetiu inúmeras vezes amar o marido, não querer perde-lo, apesar de tudo era um homem bom, carinhoso. Dizia temer perder o controle e trair o marido, às vezes sentia-se promíscua, leviana, por gostar de ser cobiçada.

    REFLEXÕES SOBRE O CASO, TOMANDO COMO PONTO DE PARTIDAO COMPLEXO DE ÉDIPO

    Uma das possíveis análise do caso Lara aponta para os conflitos em torno de um complexo de Édipo mal elaborado. Influência das experiências infantis no desenvolvimento. Tantos medos que Lara tinha na infância, do escuro onde tantas coisas podem acontecer, da sombra dos seus segredos que a perseguia, dos fantasmas dos seus desejos. Medos que lhe rendera a cama dos pais, pôs-se entre eles, a alimentar suas sombras e fantasmas, alimentar seu desejo, suas fantasias inconscientes.

    O que se pode observar é a tamanha ambivalência vivida por Lara entre o amor e o ódio pelos pais, pela mãe permissiva, passiva e queixosa; pelo pai que seduz, estimula, mas não realiza seu desejo; pelo marido transferido, nele estava posto seus sentimentos ambíguos e conflituosos em torno do desejo pelo pai. Lara tinha prazer, mas também temia ser olhada e cobiçada pelo pai, conseguir com ele tudo o que queria significava também conseguir tê-lo como objeto de amor, daí seu temor em ser leviana e cometer o incesto. O que foi alimentado pela permissividade e aprovação/estimulo do pai que cedia aos caprichos/desejos da filha. E a falta de delimitação, cortes da mãe, que ao entrar no jogo de rivalidade com Lara acabou se mostrou negligente, deixando que a filha dormisse (se pusesse entre eles) por tanto tempo, deixando que o pai tomasse partido e defendesse a filha, em detrimento ao lugar e desejo dela(mãe). Tudo isto dava prazer a Lara que também sentia culpa pelos seus desejos e pelas brigas que provocava entre o pai e a mãe.

    Se considerarmos que o marido, em transferência, ocupava o lugar do pai podemos entender os conflitos de Lara em torno da sexualidade com este marido, com quem ter relações sexuais significava cometer incesto, uma relação prazerosa com ele equivalia a uma relação prazerosa com o pai. Vivia uma ambivalência que a torturava, amava no marido o pai bom, carinhoso, cuidador, a quem desejava; mas temia e fugia deste mesmo desejo, provocador, sedutor e perigoso, desejava e fugia do incesto. Fundia-se com este marido, para tê-lo, não perdê-lo, ao mesmo tempo que o repudiava, repudiava-se.

    As fantasias de Lara em torno de algumas situações vividas com o marido, por exemplo as saídas do marido com os amigos, permitem hipotetizar que ela tinha ciúmes ao pensar que o marido (o pai) tinha relações sexuais e conversava coisas sedutoras com outras mulheres, as amantes. Vê-se como uma delas, amante do pai, a excitava a ponto de masturbasse. Brigar com o marido por sair era brigar com suas próprias fantasias e culpas. Casou-se para fugir do incesto, deslocando para o marido o desejo que sentia pelo pai de forma a poder negar este desejo original culposo, com isto também vingava as traições do pai e lhe causava ciúmes ao ser olhada, desejada, cobiçada por outro(s) homens, pelo marido. Só que ao mesmo tempo temia a perda do pai, por isso tentava alcança-lo no sonho, mas não conseguia, já era tarde, esbarrava-se em outros homens, no marido, e não conseguia mais alcançar o pai, voltar a ser sua. (O que a levou ao choro copioso ao contar o sonho). Ao acordar sentiu alívio e culpa, buscou compensar-se e ao marido com o prazer sexual, mas fazer isso foi como praticar o incesto e, então, a culpa e em seguida a autopunição.

    Lara vivia conflitos insuportáveis de desejo e culpa, amor e ódio, medo de perda, abandono, um sofrimento (que ela chegou nominando de angustia insuportável) do qual ela se defendia com sintomas variados. Os psicóticos: regressão a um estágio quase inicial, infantil; desfragmentação; ataque violento descontrolado ao marido, abandono de si mesma numa quase inércia no sofá, na frente da TV que não via, desconecta. Os histéricos: as mais variadas formas de chamar a atenção para si, dores, doenças, exibicionismo, sedução “frígida”, com pouca ou quase nenhuma relação genital. Os compulsivos: abuso do álcool, comida, o descuido e maus tratos de si. O fato é que Lara estava aprisionada neste lugar de desejo libidinal, culposo, raivoso, mal elaborado, que obsessivamente se repetia nos sintomas que tanto se sobrepunham como se alternavam.

    Um caso com grande complexidade, e muitas possibilidades de leituras, que vai se desenhando, colorindo, ganhando contornos e possibilitando olhares, reflexões, elaborações. Mas que aqui, neste trabalho, não tem como objetivo pensar diagnóstico, estrutura (embora sabido que é a partir do CE que se pensa a estrutura), encaminhamentos. Foi feito um recorte para o qual foi dirigido um olhar com fins específicos de ilustrar a discussão teórica em torno do tema o CE. Praticamente um enquadre.

    Ciente de não ter abordado com o cuidado e dedicação que requer o complexo de Édipo feminino optei por utilizar este fragmento como ilustração, por ser um caso de meu conhecimento, que penso conseguiu atender seu objetivo de ilustrar. Considerando vir a retomar o tema e o caso como continuidade no trabalho posterior, ciclo IV.

    Referências Bibliográficas: 

    Freud, Sigmund (1897). Cartas 64; 69; 71.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora. Freud, Sigmund (1905.) Três Ensaios sobre a teoria da Sexualidade. Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Freud, Sigmund (1908). Romance Familiar do Neurótico.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Freud, Sigmund (1910). Escolha especial de objeto no Homem.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Freud, Sigmund (1912). Totem e Tabu.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora. Freud, Sigmund (1923). Organização genital Infantil.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Freud, Sigmund (1925). Algumas consequências psíquicas das diferenças sexuaisanatômicas. Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Freud, Sigmund (1931). Sexualidade Feminina.Edição Standard Brasileira, RJ: Imago Editora.

    Lacan, J. Os Seminários.RJ: Zahar Editora.

    Laplanche e Pontalis, (1992). Vocabulário da Psicanálise.SP: Martins Fontes.

    Nasio, J. D. (2007). Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. RJ: Jorge Zahar .

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