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    Publicações

    O Registro do Real em Tabacaria de Álvaro de Campos

    • Autor RODRIGUES SAGATIO, MARCOS
    • Ciclo Ciclo VI
    • Ano 2019

    “A arte existe para que a verdade não nos
    destrua.”— Friedrich Nietzsche

    “As ilusões são certamente
    prazeres dispendiosos, mas a destruição
    delas é mais dispendiosa ainda.” —
    Friedrich Nietzsche

    O texto a seguir visa analisar, à luz de alguns conceitos básicos propostos por Jacques Lacan, o poema Tabacaria de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

    Uma breve sinopse do poema: o eu lírico encontra-se no seu quarto fumando e, pela janela, começa a observar uma tabacaria, que está localizada na esquina do outro lado da rua. Vendo o movimento dos transeuntes na frente do comércio, ele entra num processo epifânico, questionando sua existência e o sentido de tudo. Nessa revelação interior, toma consciência da falta de sentido da vida, das ilusões humanas, da efemeridade da existência e como se tornou alienado a tudo isso.

    A palavra-chave para definir a poesia de Álvaro de Campos em relação aos demais heterônimos e ao próprio ortônimo de Fernando Pessoa é emoção, dada a força, energia e até certa violência com que trata os temas desenvolvidos em sua produção poética. Esta é dividida em três fases: decadentista, futurista e dor de pensar, sendo a última à qual pertence Tabacaria. Cumpre notar que o “pensar” está relacionado a ter consciência. Esta traz dor por revelar os impasses da condição humana. Nesse sentido, a consciência é a grande desgraça do eu lírico, já que o não saber, consequentemente, levaria ao não sofrimento (ou pelo menos não àquele pelo qual ele passa). No entanto, uma vez obtido esse saber não há mais como se desvincular dele. Em síntese, esse é o grande conflito vivido pelo eu lírico no texto.

    Por um lado, o poema expressa os conflitos existenciais do homem no contexto do início do século XX, que vive a desilusão do cientificismo tido como solução a todos os problemas humanos no final do século precedente. Escrito em 15 de Janeiro de 1928 e publicado na Revista Presença em Julho de 1933, no período entreguerras, o texto, considerado pelo crítico italiano italiano Antonio Tabucchi o poema mais importante do Século XX, pode ser interpretado como uma síntese da decepção com relação ao saber construído pela ciência positivista, saber esse que, inclusive, serviu aos horrores da Primeira Guerra, quando muitas inovações no campo bélico se deram pela tecnologia à disposição, fruto do desenvolvimento científico a partir da segunda metade do século XIX. Trata-se de
    um período obscuro, próximo à ascensão do nazi-fascismo, dos regimes de extrema direita na Europa, que preparariam o terreno para a continuação do conflito a partir de 1939, resultando num dos eventos mais sangrentos e horripilantes da História.

    Também cabe ressaltar a proximidade da produção do texto com a crise de 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova Iorque gerou uma crise sem precedentes no cenário econômico mundial. Tal contexto histórico justifica a postura poética de Álvaro de Campos, engenheiro naval formado em Glasgow, Escócia, na medida em que nenhum homem vive impunemente seu tempo, o que, obviamente, dá verossimilhança a esse heterônimo, considerado uma das personalidades poéticas perfeitas do gênio pessoano.

    Por outro lado, a dor de pensar supracitada pode ser compreendida como produto da subjetividade do eu lírico, a forma como molda os seus afetos e a percepção idiossincrática de si e do outro. Destarte, como uma demanda trazida por um sujeito que procura a análise, o sujeito que se manifesta no eu lírico do heterônimo Álvaro de Campos constrói um discurso que remete a um sofrimento psíquico agudo, algo como um quadro melancólico, uma constatação de fracasso perante a vida, de uma impossibilidade de se harmonizar consigo e com o mundo que o cerca. Claro que se trata de um discurso pronto, concluído, fruto de uma elaboração poética, cuja função é predominantemente estética. De todo modo, o texto dá voz a um eu lírico maduro, para o qual a verdade (certeza) é relativizada e posta em cheque, constatando o quanto tal noção é um engodo incapaz de dar conta da realidade:

    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim…

    Além disso, a maturidade e lucidez do eu lírico permitem-lhe perceber o quanto fora moldado pela cultura e civilização:

    Fiz de mim o que não soube,
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,

    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Segundo Quinet (2013, p. 17), “O outro é o eu ideal: imagem desenhada e esculpida pelo significante do Outro – aqueles que constituem o Ideal do eu, que, na verdade, é o ideal do Outro que Lacan escreve com o matema I(A). O sujeito passará a vida toda tentando se igualar ao ideal do eu, tentando moldar seu eu à imagem e semelhança desse eu que mamãe e papai querem que ele seja, como, por exemplo, “inteligente”, “bacana”, “bem-sucedido”, “bonito” etc., que são significantes que veiculam o desejo do Outro.”

    O eu lírico tem plena consciência de sua alienação: a metáfora do dominó(combinação de peças de vestuário) remete justamente ao fato de se reproduzirem os valores e juízos da cultura, sem ao menos se dar conta disso. Essa consciência permite-lhe desgrudar-se, abstrair-se das imagens parentais e perceber a si mesmo como subjetividade, o que é um dos objetivos fundamentais de uma análise. Tal discussão será retomada na conclusão deste texto. Por hora, basta frisar de que há aí uma característica fundamental desse eu, inclusive que justificaria seu estado de alma melancólico.

    O poema retrata a dicotomia da psique humana, entendida como uma cisão entre os conteúdos manifestos (Cs) e latentes (Ics), interpretação que pode ser depreendida dos versos “À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,/ E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro” nos quais “fora” e “dentro” corresponderiam às duas instâncias psíquicas citadas. Cumpre notar, ainda, nesses versos, a presença de uma palavra (significante?) que se repete ao longo de todo o poema, a saber, real, a partir da qual será calcada a análise doravante.

    O Real é aquilo que não tem sentido, que não se integra, é o abjeto. Não se trata da realidade em si, mas sim aquilo que se tem que tirar, subtrair da realidade, para que esta, que é um compósito da simbólico/imaginário, apresente-se a um sujeito como uma totalidade integrada e harmonizada, dotada de sentido. Portanto, o Real é o impensado, inomeável, aquilo que não existe. É o encontro com o impossível de representar.

    Para Lacan, há uma impossibilidade de representação imanente em cada discurso, impossibilidade essa que remete ao Real, um dos registros do humano, que se caracteriza essencialmente por não conter nada, não ser passível de
    representação. Há aí a categoria do impossível de significação, a qual pode ser vinculada ao conceito de inconsciente, que deve ser entendido, portanto, não como aquilo que revela algo, mas aquilo cujo sentido não pode apreendido. Segundo Chaves (2006), nos textos da primeira metade da década de 1950, Lacan define o real como aquilo que escapa à simbolização:

    “na relação do sujeito com o simbólico, há a possibilidade de uma Verwerfung primitiva, ou seja, que alguma coisa não seja simbolizada, que vai se manifestar no real”

    Tal concepção lacaniana converge com o discurso poético do texto, o qual afirma na segunda estrofe:

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Há uma clara alusão ao registro do Real, ao impossível perdido para sempre pelo sujeito barrado, e, portanto, ao recalque. Essa constatação da impossibilidade de se chegar ao Real é uma verdade (a verdade de que não se chega à verdade). Segundo Lacan, “há um lugar, o inconsciente, em que se enuncia uma verdade que tem a propriedade de nada sabermos dela” (Seminário XVI).

    O eu lírico relativiza e se apresenta cético quanto à possibilidade do autoconhecimento (à possibilidade de o sujeito conhecer a si mesmo, já que, em última instância, aquilo que se é pertence ao campo do Inconsciente). As janelas
    dão acesso à rua que é um mistério (impossibilidade do saber) inacessível a todos os pensamentos (aqui poderia ser interpretada como inacessível à consciência, ou seja, o que é Inconsciente). O Real aparece como síntese desse não saber, dessa verdade interditada ao sujeito (daí ter os atributos de impossível e desconhecido) e essa interdição é categoricamente anunciada e reforçada como uma certeza. A única certeza, portanto, é a incerteza; a única verdade, que não há verdade:

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas

    A lucidez, na linha de raciocínio adotada aqui, equivale à aceitação do fato, segundo o qual o registro humano do Real nos coloca frente a frente com o vazio da significação, o non sense.

    Destarte, o mal estar expresso em Tabacaria pode ser interpretado como produto da constatação do eu lírico da impossibilidade de se chegar a uma verdade, a um discurso que dê conta de explicar o destino humano. Essa consciência traz como sintoma uma postura melancólica que percorre todo o enunciado do texto.

    Do ponto de vista do tempo lógico da análise lacaniana, a posição desse sujeito/eu lírico corresponderia ao terceiro, penúltimo de uma análise. Segundo Barbato (2015 a), há, sequencialmente: (i) tempo de ver (perguntar), no qual há a elaboração de grandes perguntas acerca daquilo que é falado; (ii) tempo de entender o que se viu, chegando ao ensaio de alguma resposta; (iii) tempo de concluir aquilo que viu e entendeu; (iv) tempo da legitimização do impossível, no qual o sujeito aceita e consegue viver com a impossibilidade inerente à condição humana, sem fazer disso um sintoma, a base de sofrimento. Por que o melancólico faz das ausências de sentido da vida humana um sintoma e não uma condição de saber, já que o sentido em si não existe, mas cabe a nós dar sentido sentido à
    existência? Do ponto de vista da lógica lacaniana, toda produção excessiva de conhecimento é o produto de um sujeito que está na posição de não suportar nenhum não saber. Ora a postura do eu lírico em Tabacaria corresponde a essa condição melancólica, na medida em que o sujeito não se conforma com a constatação/consciência da impossibilidade do saber humano em preencher os vazios de sentido da existência, em dar respostas que justifiquem o porquê da vida, que respondam às três perguntas da Esfinge (Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou?).

    Para se chegar a essa percepção e assumir essa perspectiva frente ao seu desejo e à vida, seria necessário um longo e trabalhoso processo de análise, que não se alcançaria sem se abrir mão de muitas coisas e implicando sacrifícios. Essa percepção diz respeito justamente ao processo de desalienação e subjetivação. No discurso de Álvaro de Campos, por se tratar de uma construção poética, é abstraído algo que é pressuposto para todo sujeito, a saber, a relação com os objetos primários e tudo o que tal relação implica, a saber, a castração (no caso das estruturas das neuroses de transferências), a fixação na fantasia fundamental, a alienação etc.

    No plano das relações imaginárias, cria-se a pseudo noção de que há uma simetria, reciprocidade e semelhança entre ele e outro naquilo que se entende e interpreta do mundo. Tal ilusão faz com que, diante do que é estranho, daquilo que não se consegue reconhecer como idêntico a si, o sujeito aja com agressividade, por se tratar de algo que ofende e ameaça sua identidade.

    Subentende-se, pois, que o eu lírico de Tabacaria restringiu o registro do imaginário, uma das formas de se entender a função da análise. Assim sendo, ele parece não padecer da ilusão segundo a qual é possível se atingir a compreensão a partir da linguagem verbal – expectativa de compreensão, a partir desse sistema simbólico, do sujeito humano. Logo, teria transcendido (até onde se é possível fazê-lo) o campo da alienação, das identificações, a instância em que o sujeito fala a partir do seu ego, levando ao desconhecimento, à paranóica e às projeção. Estaria, assim, no terceiro tempo da análise.

    Nessa perspectiva, o eu lírico constata, na segunda estrofe do poema, que nosso destino é a morte, o nada, o furo. A rua e a estrada citadas no poema seriam significantes do percurso da análise, o caminho que leva a constatar tudo isso (a travessia do fantasma).

    Para Barbato (2015 b), os sintomas clássicos da contemporaneidade estabeleceram equivalências falsas e formataram o lugar subjetivo governado pelo Imaginário, registro que se permite aparecerem as consistências humanas, unindo coisas distintas de forma artificial por não consistir no interior da linguagem gramatical. Ao formular esses conceitos, Lacan leva a Psicanálise a romper com os sentidos dos discursos hermenêuticos, os discursos cartesianos que almejam responder e explicar tudo a partir de uma relação lógica de causa e efeito.

    Estendendo-se o conflito expresso no poema a um contexto analítico, ressalta-se, do ponto de vista lacaniano, que discurso do analisante não leva a uma revelação de causa de sofrimento, mas um limite de linguagem (Registro do
    Simbólico) que de tão insuportável fundou um sintoma. O papel do analista seriaentão apontar para esses vazios de sentido, o Real, para que o sujeito possa de alguma forma consentir a estrutura inerente de vazio de nascimento do sujeito humano.

    Em suma, o eu lírico do poema saiu do estado de alienação, encontra-se em processo de subjetivação, porém, não alcançou o quarto e último estágio de uma análise lacaniana, na medida em que, não conseguiu transformar a ausência de sentido inerente à existência humana como uma forma de saber, mas fazendo dessa ausência um sintoma, causa de seu sofrimento.

    Referências Bibliográficas: 

    BARBATO, Welson (2015 a). A investigação do psicanalista lacaniano. Disponíel em https://www.youtube.com/watch?v=zma7car_dqg (Acesso em 12.10.2019)

    BARBATO, Welson (2015 b). Os quatro passos da psicanálise lacaniana. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=dli1OuxXHeE (Acesso em 12.10.2019)

    CHAVES, Wilson Camilo. O estatuto do real em Lacan: dos primeiros escritos ao seminário VII, uma ética da psicanálise. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2006, vol.16, n.34 [citado 2019-10-15], pp.161-168. Disponível em:
    <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2006000200004
    &lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-863X. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2006000200004.

    LACAN, J. (1992). O Seminário, Livro II: O Eu na teoria de Freud e na técnica da
    Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

    LACAN, J. (1992a). O Seminário, Livro III: As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

    QUINET, Antônio (2012) Os outros em Lacan. Coleção Psicanálise passo a passo
    no 94. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

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