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Freud acreditou ter que defender a Psicanálise da medicina, primeiro, e da religião, depois. Lacan chegou a manifestar que a religião triunfaria neste embate (assunto sobre o qual qualquer analista brasileiro está advertido). Porém hoje a verdadeira ameaça contra a Psicanálise vem do discurso universitário (não dissemos “da universidade”) que neutraliza a especificidade do seu discurso diluindo-o como mais uma manifestação cultural equiparável a qualquer outra. Sobre isso vão conversar com os interessados Rinaldo Voltolini e Ricardo Goldenberg
O rei, o sábio e o bufão
Os reis sempre contaram com o sábio para se aconselhar. O conselheiro do príncipe se tornou um personagem imprescindível nas cortes e que servia para dar às decisões do rei o devido peso do bom exercício da razão. Essa relação ente o saber e o poder encontrou na modernidade seu lugar nas figuras do saber universitário e do poder executivo do Estado, articulação cuja denúncia foi o estopim, por exemplo, da célebre revolução estudantil conhecida com o nome de maio de 68.
Menos conhecido é o papel da figura do bufão, artista medieval que trabalhava com o jogo do corpo e da palavra, zombando dos hábitos e costumes da moral do reinado, aproveitando-se de sua condição autorizada de falta de seriedade, para fazer o elogio da feiura e da liberdade da loucura. Tal posição não teria algo de análogo à do analista na polis? Afinal, ser considerado um artista, que joga com os mistérios alquímicos do corpo e da palavra, flertando com a posição de falta de seriedade – universitária – e pródigo em fazer o elogio da feiura e da loucura, não são termos muito distantes da definição política do psicanalista.
As atuais condições da aliança entre o sábio e o rei parecem encurralar o bufão, propondo-lhe sequestrar sua secular licença de marginalidade para ganhar um cargo oficial e um lugar na foto da corte. Seja pelo saber universitário que quer disciplinar a psicanálise, seja pelo poder do Estado que quer regulamentar sua prática, o bufão psicanalista, que sempre soube que a fortuna estava mais do lado do chiste do que no do pensamento sério, tem que saber salvar seu lugar e mesmo sua existência, evitando o risco de sua aculturação.
sexta-feira | 02 de setembro
horário | 19h às 21h
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Ricardo Goldenberg
psicanalista, mestre em Filosofia pela USP, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Autor dos livros "Ensaios sobre a Moral de Freud" e "Goza", Ed. Agalma, "No Círculo Cínico: ou Caro Lacan, Por Que Negar a Psicanálise aos Canalhas?", ed. Relume-Dumara, "Política e Psicanálise", Jorge Zahar Editor, "Psicologia e Análise do Eu, Solidão e Multidão", Coleção "Para ler Freud", ed. Civilização Brasileira, "Do Amor Louco e Outros Amores", "Desler Lacan", ambos da editora Instituto Langage e "Inconscientes", ed. Sinthoma.
Rinaldo Voltolini
Psicanalista, doutorado em Psicologia na USP, pós-doutoramento em psicogênese e psicopatologia pela Université Paris XIII, professor livre docente da Faculdade de Educação da USP. Coeditor da revista Estilos da Clínica, coordenador do LEPSI (Laboratório de Estudos Psicanalíticos da Infância e Educação). Autor de vários livros e artigos sobre Psicanálise, infância e educação.