A Psicanálise entre Ciência, Espiritualidade, Tecnologias e Sociedade - Modos Contemporâneos de Crença, Controle e Subjetivação

PROGRAMA
Vivemos uma época em que as promessas de autonomia e liberdade muitas vezes se transformam em cobranças: é preciso ser empreendedor de si, administrar o próprio corpo, acompanhar o humor, mensurar o rendimento, regular a imagem e até planejar o futuro. Nesse clima, o sofrimento mudou de lugar, já não se estrutura tanto a partir do conflito entre desejo e renúncia, mas da sobrecarga dos excessos: excesso de exigência, de expectativas, de vigilância sobre si e de intolerância diante do próprio limite. Hoje, não basta tentar corresponder ao desejo do Outro; o sujeito sente que precisa se fabricar o tempo todo, como se sua existência só tivesse valor pelo desempenho que apresenta. Na escuta clínica, essa pressão aparece de muitos modos: quadros de exaustão, ansiedade generalizada, episódios depressivos sem razão clara, distúrbios alimentares, impulsos compulsivos, investimentos constantes em metas e performances, misturados a uma sensação persistente de inadequação. O corpo, por vezes, fala alto onde a palavra não encontra saída: surgem dores crônicas, crises físicas, colapsos, fadiga extrema, até passagens súbitas ao ato. É como se o sujeito e sua capacidade de desempenho se confundissem, e o desejo fosse sufocado pelo peso do ideal de ser sempre mais. Diante desse cenário, surgem questões fundamentais: Como a psicanálise pode atuar num tempo em que não se pede mais ao sujeito que renuncie ao desejo, mas que o performe sem trégua? Como sustentar uma escuta quando o sofrimento ganha a forma do sentimento de fracasso ou até mesmo da sensação de impostura? Onde encontrar e acolher o desejo quando a vida psíquica se vê comandada pelo imperativo de produzir, otimizar e exibir resultados? E como abrir espaço para o mal-estar sem aprisioná-lo na lógica do déficit, sem reforçar a tirania da eficiência? Esses desafios se tornam ainda mais intensos com a exposição da psicanálise nas redes sociais, onde tudo assume traços de espetáculo e performance. Quando a reflexão psicanalítica vira conteúdo para engajar, conhecimento rápido de fácil consumo ou até marca pessoal, o que está de fato sendo transmitido? O que se perde ou simplifica na urgência de aparecer? Como fica o compromisso ético da psicanálise e do analista em tempos que exigem visibilidade e produção em massa? Esta jornada quer ser espaço vivo de reflexão e partilha sobre o sujeito contemporâneo, cercado pelas demandas de autoprodução. Queremos interrogar juntos a clínica, o corpo e o desejo, buscando ouvir para além das entregas, criando brechas de criatividade onde impera a exigência, sustentando a possibilidade de existir, não apenas de executar.

HORÁRIO
sábado | 9h às 12h e 13h às 16h

DIRIGIDO
A Jornada é uma atividade gratuita, dirigida ao público em geral.
Informações e inscrições*
11 3864 2330 | 11 3865 0017 | WhatsApp 11 97666 1249
cep@centropsicanalise.com.br
*inscrições antecipadas