CEP - Centro de Estudos Psicanalíticos | Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por SD Tecnologiaprograma
O ressentimento não é um conceito da psicanálise. Decidi incluir este afeto,
que podemos considerar como uma “paixão triste”, segundo a classificação dos
afetos proposta por Baruch Espinosa, a partir de algumas observações em minha
clínica. Nós, psicanalistas, escutamos com frequência relatos de eventos
traumáticos que o sujeito tenta, mas não consegue esquecer. Parte importante do
trabalho de um(a) psicanalista consiste em fazer recordar e elaborar o
traumático para que o sujeito seja capaz de… esquecer. Isto é: tornar-se capaz
de não pensar mais naquilo, não inventar mais soluções sintomáticas para o que
não conseguiu elaborar. Seguir em frente, livre de suas “reminiscências”. A
histérica, escreveu Freud entre as primeiras elaborações de sua teoria sobre as
neuroses, “sofre de reminiscências”.
Já o ressentido, este não admite esquecer. Sua fala é queixosa, mas não dá
lugar a nenhuma elaboração. O ressentido não quer investigar nada porque está
tomado pela convicção de ter sido vítima de alguém, de algum engano, de alguma
injustiça do destino ou de um rival mal-intencionado. Parece estranho afirmar
que o ressentido recorre ao analista para manter seu sintoma. Eu lhes pergunto:
por quê? Para preservar a imagem narcísica de vítima inocente. “O ressentimento
é uma vingança adiada”, escreveu Nietzsche, filósofo que se dedicou a esse
tema. A disposição subjetiva do ressentido, para Nietzsche, pode ser resumida
na frase:
“Eu sofro: alguém deve ser o culpado”. É o avesso da psicanálise, já que esta
busca implicar o sujeito não só na investigação das causas de seu sofrimento,
mas também na responsabilidade por seus sintomas. Se o sujeito que procura
análise reconhece sua divisão subjetiva e busca tornar-se íntimo do “outro” que
o habita, o ressentido demanda que o psicanalista reconheça seu estatuto de
sujeito não dividido: este que só sofre desde o lugar de vítima. Este que não
tem nenhuma responsabilidade subjetiva por seus sintomas, suas inibições, sua
angústia. O ressentido é um sujeito dividido como todos nós, mas não o
reconhece. O Outro que o habita é projetado no outro, qualquer um: rival,
ex-amor, pai ou mãe incompreensivos… qualquer um a quem possa atribuir as
razões de seus fracassos. Queixar-se, acusar, “não perdoar jamais”!… não deixam
de ser modos bizarros, mas eficientes, de gozar.
A implicação do sujeito em uma análise aponta para a possibilidade de superação
do ressentimento.
sexta-feira | dia 01 de abril
horário | 19h às 21h
dirigido
a psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, estudantes e profissionais das áreas
da saúde
preço
até o dia 07/03/22 | R$ 200,00
após o dia 07/03/22 | R$ 230,00