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INCIDÊNCIAS DO RACIONALISMO ALEMÃO e DA POÉTICA FRANCESA NAS CONCEPÇÕES DE “CURA” EM PSICANÁLISE. A direção da cura hoje e as fragilidades de seu poder.
Lacan provavelmente teria gostado de ser um poeta, mas foi um lógico. Freud teria gostado de ser um cientista, mas descobriu precisamente o avesso dacons-ciência.
Kant e Sade à simples vista não parecem destinados a formar um matrimônio feliz. Por isso causa um certo estranhamento o título que Lacan reservara para seu escrito “Kant com Sade” (o sublinhado é nosso). Entre o ‘direito irrestrito ao gozo’ e ‘A Crítica da Razão pura’ como poderia vir a se estabelecer uma convergência sendo um irrestrito e o outro crítico? O que ambos poderiam ter em comum? É somente avançar uma palavra no enunciado de cada um, colocando o acento na segunda e não na sua antecedente, para encontrarmos a resposta: ‘gozo’ conjuga de maravilhas com ‘razão pura’ com a simples condição (plenamente cumprida por Kant) de que essa última seja ‘natural’ –tão natural quanto o gozo para Sade. O gozo da razão em Kant requer a crítica dela mesma no interior dela mesma (fundamento da tautologia científica contemporânea), enquanto a razão do gozo em Sade reside na dialética da oposição entre sadismo e masoquismo realizada no interior da extensão do gozo (fundamento do hedonismo contemporâneo).
Quando isso que tem se autobatizado como “Comunidade Científica Internacional” reclama da Psicanálise sua insuficiente cientificidade passa completamente inadvertido para ela que a está reclamando de insuficiência tautológica e de insuficiência hedonista.
Sendo que tautologia dá certeza e hedonismo dá gozo no limite, que outra coisa senão um bom casamento de ambas instâncias é o que reclama o sujeito contemporâneo (pós-moderno?) como “cura” de seu sofrido espírito? Não é isso que dissolve a família tradicional, o que tematiza as brigas conjugais, o que desautoriza o saber dos adultos, o que leva a idolatrar a infância como fonte de sabedoria? Não é isso que alimenta a constante gangorra entre a eficiência executiva e o laissez-faire da toxicomania?
Qual escuta podemos oferecer os psicanalistas à essa reclamação que, pela sua própria textura, se apresenta como demanda de realização iminente? Basta com desvendar a trama do desejo desse objeto, fruto imaginário de tal casamento impossível, e que, perante sua impossibilidade, faz sintoma? Ou se requer também a interpretação da armadilha que o Discurso da Modernidade tecera tão ardilosamente, qual a certeza de uma Penélope que podia fazer e desfazer para novamente fazer o mesmo tecido com a parcimoniosa tranquilidade de que seu sujeito (Ulysses) necessariamente retornaria de sua aventura de autonomia imaginária?
Nos encontramos com que o poder de captura de tal Discurso é diretamente proporcional à fragilidade de nossa direção da cura.
Se Freud se encontrou com a oposição entre o gozo da sexualidade e a razão de uma moral (o que dá sintoma no corpo – histeria conversiva), Lacan se deparou com o casamento (não por amor, mas por conveniência) entre uma sexualidade do gozo e o apregoar de um saber absoluto (que dá sintoma na relação com o Outro – paranoia). Pela nossa parte, no tempo atual, suportamos a transferência de certezas não cumpridas e gozos não realizados (o que dá sintomas de destino – obsessões melancólicas, hoje rebatizadas de bipolaridade).
Um gozo gulosamente sadeano (gozar apesar do outro) conjugado com uma razão curiosamente reivindicante de ‘ser natural’ (a organogénese universal). Os psicanalistas, então, nos perguntamos: quanta regressão da palavra à coisa suporta o sujeito sem desaparecer?
datas
sábados | 26 de abril, 24 de maio, 28 de junho, 30 de agosto, 27 de setembro e 25 de outubro de 2014
horário | 09h às 12h
carga horária
18 horas (6 aulas de 3 horas cada)
dirigido
a psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, estudantes e profissionais das áreas da saúde
preço
três mensalidades de R$ 300,00
alunos do CEP: três mensalidades de R$ 255,00