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“O exílio de massa, a financeirização do mundo e a
abolição das distâncias constituem os três grandes acontecimentos que se
entrecruzam em nossa realidade contemporânea”. Ou dito de outro modo seria
possível afirmar que a geografia das distâncias perdeu sua pertinência a partir
do momento em que as migrações de massa destruíram as referências do perto e do
longe, do aqui e do lá longe, do natal e do alhures, do eu e do outro? Meu
objetivo, nesse mini-curso, é o de explorar essa afirmação de Levy (2005) para
que possamos nos debruçar sobre esse mundo de deslocados que, segundo a Acnur
contabiliza hoje em dia algo em torno de 65 milhões de pessoas, incluindo aí os
migrantes, os refugiados e os exilados. Migração e exílio não são sinônimos, na
medida em que estrangeiros, migrantes ou refugiados somos todos exilados, o
exílio sendo uma metáfora da condição humana, razão pela qual o exílio tem algo
particular, principalmente para um psicanalista, na medida em que só ele remete
à dimensão inconsciente inerente à experiência humana, o único a designar os
deslocamentos humanos, enquanto o de migração remete a todas as espécies
animais e seus deslocamentos geográficos. O termo imigração por sua vez remete
mais ao aspecto demográfico da questão. É esse quadro que tentarei abordar no
nosso primeiro encontro. No segundo,
partindo da constatação de que desde os tempos mais remotos os humanos migraram
e se exilaram, atravessando fronteiras reais ou imaginárias, seja para fugir
dos avatares da História, seja para fugir à procura de melhores condições de
existência para si próprios e seus descendentes, tentarei abordar algumas
maneiras possíveis de se viver essa passagem que implica na perda da terra
natal e da língua materna. Enquanto alguns são incapazes de fazer o luto da
Pátria e da língua materna e se sentem incapazes de se sentir à vontade na
terra e língua do país de acolhimento, outros conseguem enfrentar a perda e
ultrapassar a melancolia, sendo capazes de transformar o lugar de acolhimento
em lugar de vida. Tentarei aqui entender os efeitos subjetivos dessas rupturas,
impostas ou escolhidas, entre elas, talvez a mais importante, o fracasso em
subjetivar o traumatismo e transformá-lo em experiência pessoal, e o lugar do
analista nesse trabalho de subjetivação.
No terceiro e último encontro a idéia é de abordar mais em profundidade
a especificidade dos deslocamentos contemporâneos, no qual os migrantes vem
cada vez mais sendo os depositários da própria representação do mal, aqueles
sobre os quais projetamos tudo que não podemos suportar em nós mesmos. No
trabalho com esses deslocados contemporâneos acredito na necessidade de uma
proximidade maior que nas neuroses de transferência, e isso por inúmeras
razões, dentre as quais a vergonha parece ser o afeto mais comum, em oposição à
culpa e à angústia. Face a esse humano que se sente abandonado não apenas por
seu grupo de pertencimento mas pela humanidade como um todo, o analista não
pode repetir o crime e se contentar com a dita “neutralidade”, sua
reponsabilidade residindo na necessidade e capacidade de ouvir a História que
acompanha a história do sujeito, possibilitando pôr em relato uma história que
não cessa de escapar.
datas
quintas-feiras | 12, 19 e 26 de março
horário | 14h às 17h
carga horária 9 horas (3 aulas de 3 horas cada)
dirigido a psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, profissionais das áreas da saúde, alunos, ex-alunos do Curso de Formação em Psicanálise e profissionais interessados no trabalho com grupos nas instituições.
preço duas mensalidades de R$ 370,00 alunos do CEP: duas mensalidades de R$ 340,00